sexta-feira, 2 de outubro de 2009

violetas da varanda


Acordo. Da sacada da minha casa olho as violetas da varanda. Lá em baixo, tão pequenas, tão miúdas. Forço a vista um pouco, um pouquinho mais, eis que as vejo. Belas, majestosas. Flores pequenas, flores brotando, flores se abrindo. Eu, eu sim, eu estou vendo-as! Enquanto vejo, um pensamento terrível passa pela minha cabeça. Sim, um pensamento que penso ser meu.

“Venha! Estou aqui! Olhe um pouquinho para a sua direita! Preciso de você! Não tenho o que comer, não tenho o que vestir, não tenho aonde ir, não tenho onde morar!”

Fico assustado! O que será?! Aonde?! Quem?! Viro-me, olho! Mais um pouco! De novo! Vejo! Um pontinho pequeno, bem pequeno, pequenino, marrom, longe, longe, mas nem tão longe! Forço a vista! Enxergo! Crianças! Muitas, bastante! Sujas, magras, aglomeradas! Olho mais um pouco – atento, atentamente! Sim! São crianças! Brincando descontente! Fingindo ser alegre, fingindo ser gente!

Que devo eu fazer?! Penso! Logo o pensamento turba-me! Alvoroça-me! Dor no coração – mas não uma dor dessas que o médico pode diagnosticar – uma dor profunda! Acho que na alma! Descer, ir de encontro a elas, pegá-las pelas mãos, abraçá-las, cuidá-las, levá-las para a casa! Não! Não posso! Não tenho coragem! Não tenho forças!

Resguardo-me! Acautelo-me! De repente! Outro pensamento me corre a mente! Forte! Voraz! Fortemente! De novo! Baixinho, “tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber, estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me”. Reconheci! Era a voz! Mas não qualquer voz! Era a voz do meu Senhor!

Ah! Quão covarde! Ah! Quão covarde e miserável homem eu sou! Chorei! As lágrimas molharam meu rosto! Banharam! Bastante! Muita! Constante! Mas não pude fazer o que queria meu coração! Faltou coragem! Ousadia! Força! Determinação! Ah! Quão covarde! Ah! Quão covarde e miserável homem eu sou!

Deito. Logo durmo.

Autor: Abnael Martins

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